Quando escrevi o texto “O final dos tempos” tive como
principal objetivo esclarecer aos “alarmistas do fim do mundo” que todas as
previsões feitas pelos diferentes “profetas” não aconteceram. Entretanto,
outras previsões existem e novas profecias surgem e o alarmismo retorna. Meu
email começou a receber mensagens de pessoas que estão com medo deste ano.
Estamos em 2012, provavelmente o ano
que o mundo vai acabar conforme a previsão maia, em 21 de dezembro. Os pessimistas
já estão saindo de suas tocas e levantando suas bandeiras: Vamos morrer! Existem
radicais extremistas que passam a viver em torno destas previsões, abandonando
suas vidas normais e lançando-se ao desespero. Alguns chegam a se matar. Como
já citei, não entendo como uma pessoa pode se matar por estar com medo de
morrer.
Para facilitar a
compreensão da “profecia” maia, vou utilizar um pequeno trecho do meu livro “Entre o céu e a Terra”. Segundo algumas
pessoas, os maias acreditavam no fim do mundo, não sendo uma ideia vaga ou
abstrata, mas um evento real e específico, relatando um juízo final com a
destruição da Terra e de seus habitantes. Não é de se estranhar acreditar no
juízo final, porque muitas religiões tratam deste assunto, entretanto, os maias
elaboraram um calendário, um instrumento de tempo e espaço, que alguns
acreditam que contenha a data final da humanidade.
A dificuldade de
se entender o calendário maia deve-se ao pouco material para ser estudado, onde
apenas quatro escritas sobreviveram ao massacre espanhol, a partir de 1519, e
pela destruição feita pela Igreja por considerá-las “coisas do demônio”. Em
1880, um pesquisador alemão, conseguiu decifrar o código maia detalhadamente,
obtendo espantosas previsões sobre o futuro. Os maias eram obcecados pelo tempo
e possuíam uma visão diferente da nossa. Acreditavam que o tempo era cíclico,
fenômenos ocorriam e voltavam a ocorrer, e não como acreditamos que o tempo é
linear e contínuo. Com esta visão do tempo, os maias construíram um calendário
mais completo e preciso que qualquer outra civilização existente. Para se ter
uma ideia, segundo Whitrow, no seu livro “O tempo na história: concepções do
tempo da pré-história aos nossos dias”, o ano gregoriano é longo demais e o
erro pode chegar a três dias em dez mil anos, enquanto que, no ano maia, o erro
seria de dois dias, portanto, 4 segundos mais preciso que o utilizado hoje.
O calendário
maia continha três partes: a primeira era o calendário solar, com 365 dias
divididos em 18 meses de 20 dias e 5 dias restantes considerados horríveis.
Outro calendário era o cerimonial, formado de 13 números combinados com 20
dias, totalizando 260 dias que tinham como objetivo entender as várias
dimensões da experiência humana, como os nove meses de gestação, prever o dia
de batizado, batalhas, e dados astrológicos como eclipses. Também existia um
calendário de conta longa, que era utilizado para a contagem do tempo e de onde
surgiram várias previsões e até, como alguns supõem, determinaria o fim do
mundo. O calendário de conta longa era iniciado no dia 13 de agosto de 3114 a .C. e terminaria 5.125
anos depois, portanto, em 21 de dezembro de 2012 que seria o dia do juízo
final. Esta data foi calculada meticulosamente utilizando seus incríveis
conhecimentos astronômicos, onde em dezembro, no solstício de verão, deverá
ocorrer um alinhamento de corpos celestes com o centro de nossa Galáxia, fato
que ocorre a cada 26 mil anos, podendo ocorrer também uma mudança no eixo da
Terra.
Agora que conhecemos a contagem do
tempo maia e as previsões feitas pelos homens utilizando os dados maias, devemos
ter cuidado com o título deste artigo porque existe uma grande diferença de conceito
quando comparamos “fim do mundo” com “fim dos tempos”. “Fim do mundo” significa
o fim do nosso planeta, a Terra e “fim dos tempos” significa encerrar um
determinado período ou determinada vida. É mais fácil ter o “fim dos tempos” do
que o “fim do mundo”. Vou tentar explicar.
A vida na Terra é a consequência de uma
experiência única, sem comparações, porque não conhecemos, até o momento,
formas de vida diferentes às que existem no nosso planeta. Da simples bactéria
ao homem, observamos diferenças enormes, com a impressionante garra das
bactérias que conseguiram sobreviver 3,5 bilhões de anos quando comparado à recente
e frágil forma humana com cerca de 200 mil anos.
O nosso planeta pode passar e já passou
por grandes mudanças, como por exemplo, queda de grandes meteoros, mudanças
drásticas no clima, migração de continentes e problemas com as camadas
protetoras da Terra. Entretanto, ele continua aqui girando e recomeçando, após
cada mudança, uma nova história evolutiva. O problema está em relação à vida no
planeta que pode sofrer grandes mudanças, como exemplo, se o efeito estufa
aumentar e se as calotas polares começarem a derreter, alguns ambientes poderão
ser inundados e alguns seres poderão desaparecer, mas a Terra só terá um oceano
um pouco maior.
A Terra já passou por várias extinções
em massa e continua sua jornada. Podemos citar vários exemplos, como a que
aconteceu no final Ordoviciano, cerca de 438 milhões de anos; a do fim do
Devoniano, cerca de 357 milhões de anos e a mais terrível extinção que ocorreu
no fim do Permiano, cerca de 250 milhões de anos que exterminou 95% da vida na
Terra. A mais conhecida aconteceu entre o Cretáceo e do Terciário, cerca de 65
milhões de anos que eliminou os dinossauros.
A partir do momento em que a espécie
humana surgiu na Terra, nenhuma grande catástrofe com extinção significativa
ocorreu. As profecias catastróficas estão relacionadas às religiões,
principalmente as lineares como o cristianismo, o islamismo e o judaísmo,
porque existe uma concepção de início e fim, diferente do conceito cíclico dos
hinduístas e budistas, onde após um ciclo determinado, retorna-se ao início.
Desta forma, a concepção de fim está associada aos livros sagrados como a
Bíblia, que foi escrita em épocas que não existia o conhecimento da história do
nosso planeta e, os principais vestígios históricos, os achados fósseis, que
poderiam representar o inicio do conhecimento, foram tratados como restos de
animais ou de homens antediluvianos ou restos de heróis mitológicos. Segundo
Stephen Jay Gould “O ano 2000 e as
escalas do tempo”, Santo Agostinho chegou a publicar que um molar
gigantesco era o vestígio da grandeza dos corpos humanos primitivos.
As profecias apocalípticas servem para
fomentar as nossas angústias perante a possibilidade da morte. Como já escrevi
no texto “O final dos tempos”, a espécie humana
sempre acredita em alguma previsão, principalmente
que alguma coisa “do mal” vai acontecer. Estamos sempre “em guarda” para o
pior. Este fato deve estar relacionado à preservação da vida como um instinto
primário de sobrevivência, comum em todos os animais. Acredita-se que a cada
final de século e início do outro ocorre certa histeria coletiva. Tenho certeza
que você já escutou alguma previsão sobre o fim do mundo.
A
possibilidade de ocorrer uma catástrofe existe, seja ela hoje, amanhã ou daqui
a milhões de anos. Como exemplo de Catastrofismo, segundo Aaron Dar, do Instituto
de Pesquisa Espacial Technion de Israel, uma estrela, como o Sol, com uma
enorme massa, no seu fim da vida entrará em colapso formando um buraco negro,
liberando uma onda de radiação destrutiva que eliminará tudo o que estiver no
seu caminho, inclusive a Terra. Mas antes de entrarmos em pânico, os
cosmólogos, de uma forma geral, afirmam que o nosso Sistema Solar estará
estável, no mínimo, entre 5 e 40 milhões de anos.
Considerando
exclusivamente o nosso planeta, um perigo pouco discutido, mas de grande
importância para a vida, é a inversão do pólo magnético da Terra. O campo
magnético da Terra funciona junto com a nossa atmosfera como uma barreira
protetora contra a radiação nociva que vem do Universo, principalmente do Sol.
Este campo magnético não é fixo e vem diminuindo, com uma redução de cerca de
10% desde 1830 quando começou a ser medido. Acredita-se que este campo
magnético está sendo invertido, portanto, a bússola pode passar a apontar para
o sul. Analisando esta inversão podemos ter alguns problemas como alteração na
migração de algumas aves e se, durante a inversão, a proteção desaparecer,
sérios problemas podem acontecer, como alterações no DNA de toda vida na Terra.
Esta modificação natural poderá ser o motivo de mais uma extinção em massa, entrando
para a lista das extinções citadas acima.
Outros problemas
podem ser motivadores de devastação em massa no nosso planeta, principalmente,
movidos pelas mentes criativas dos homens. Como cita Martin Rees, no seu livro
“Hora Final”, dois perigos são reais
e a catástrofe pode acontecer a qualquer momento. São eles o perigo nuclear ou a letalidade de determinados microrganismos nocivos
criados ou modificando dos em laboratórios.
Como
finalizei o texto “O final dos tempos”, toda civilização possui previsões de catástrofes,
inclusive a nossa, com novos loucos surgindo a todo tempo. Existem até aqueles
que acreditam no dia do arrebatamento, onde determinado momento algumas pessoas
desaparecerão, sendo salvas pelo Divino. Ainda bem que a época que vai
acontecer o apocalipse não foi divulgada, mostrando a esperteza de quem
elaborou a Bíblia. Esta esperteza de não marcar a data, evita o
descrédito e fomenta a espera que pode ser longa, ou se acontecer um acidente
de percurso, podem dizer: “Não falei que iria acontecer!” e mesmo na eminência
da morte, ficarão felizes por terem acertado a previsão. Caso contrário e como
acredito, no dia seguinte estarei tomando uma cerveja no Bar do Pezão. É bom
registrar, considerando a previsão maia, dia 22 de dezembro, o dia seguinte,
será um sábado e meu primeiro dia de férias. Uhuuuuul!!!!!!!
Edson Perrone
ecperrone@gmail.com
Perrone, E. C. Entre o céu e a Terra.
Vila Velha, Ed. Grafer. 2011.
REES,
M. Hora
Final. São Paulo, Companhia das Letras. 2005.
Whitrow, G.J. O
tempo na história: concepções do tempo da pré-história aos nossos dias.
Rio de Janeiro, Zahar Ed. 1993.